Olá, seja bem-vindo ao nosso podcast! Hoje vamos falar sobre batata no brasil e, mais especificamente, sobre os desafios e oportunidades logísticas e de infraestrutura nessa cadeia produtiva tão importante. A batata inglesa – aquela popular batatinha consumida no dia a dia – é um produto fundamental para a alimentação e para o agronegócio brasileiro. Mas você já parou para pensar em como ela sai da lavoura e chega até sua mesa? Vamos juntos explorar dados recentes de produção, identificar gargalos de transporte e armazenamento, conhecer casos de sucesso em infraestrutura e entender o que está sendo feito (ou poderia ser feito) para melhorar a logística desse tubérculo. Tudo em uma linguagem bem acessível, como um bom bate-papo com produtores rurais, investidores e profissionais da cadeia agroindustrial. Prepare-se, que o assunto de hoje dá muita batata!
Produção atual e sazonalidade da Batata Inglesa no Brasil
Para começar, vamos traçar um panorama da produção de batata inglesa no Brasil. De acordo com estimativas do IBGE, em 2023, foram produzidas cerca de 4,0 milhões de toneladas de batata no Brasil, um volume levemente superior ao do ano anterior (crescimento de aproximadamente 0,1%). Essa produção está dividida em três safras ao longo do ano – popularmente chamadas de safra das águas (verão), safra da seca (outono) e safra de inverno. A primeira safra (verão) costuma representar cerca de 45% do total anual, a segunda aproximadamente 30%, e a terceira o restante. Essa distribuição por safras reflete a sazonalidade da bataticultura: como a batata precisa de clima ameno e boa disponibilidade de água no ciclo, os agricultores escalonam plantios ao longo do ano, aproveitando diferentes regiões e épocas.
Você sabia que a batata é cultivada o ano inteiro no Brasil? Isso mesmo – graças às diferenças climáticas regionais, sempre há batata sendo colhida em algum canto do país, seja no verão chuvoso ou no inverno mais seco. As principais regiões produtoras tradicionais incluem o Sul e Sudeste. Estados como Minas Gerais, Paraná e São Paulo lideram a produção nacional, seguidos de perto por alguns novos protagonistas. Nos últimos anos, a Bahia despontou como grande produtora: em 2020, a Bahia colheu cerca de 390 mil toneladas, um salto de 30% sobre 2019, fazendo o estado subir do 5º para o 4º maior produtor de batata no Brasil, ultrapassando o Rio Grande do Sul. Essa expansão se concentra na região da Chapada Diamantina – municípios como Mucugê e Ibicoara já figuram entre os maiores produtores nacionais. Ou seja, o mapa da batata brasileira está se diversificando: além da tradicional batata do Sul de Minas e do Paraná, temos batata de Goiás, do Sudoeste Paulista e até da Bahia ganhando mercado.
É interessante notar também a diferença entre volume e valor da produção. Por exemplo, Mucugê (BA) foi recentemente apontada como o município de maior valor de produção de batata no país – isso indica alta produtividade e qualidade, possivelmente ligada a investimentos em tecnologia e infraestrutura local. Falaremos já desses pontos. Em resumo, o Brasil produz muita batata, em diferentes regiões e épocas do ano, garantindo abastecimento contínuo. Mas tirar essa batata da roça e levá-la fresquinha até o consumidor final é outra história, cheia de desafios logísticos. Vamos a eles.
Desafios Logísticos e Gargalos de Infraestrutura
Mesmo com um volume robusto de produção, escoar a safra de batata pelo Brasil afora não é tarefa fácil. Nosso país é continental e altamente dependente do transporte rodoviário – e aí começam os gargalos. A infraestrutura não acompanhou o crescimento do agro nas últimas décadas. Em outras palavras, estradas, armazéns, ferrovias e portos insuficientes acabam limitando a competitividade. No caso das hortaliças como a batata, os desafios têm algumas características próprias: estamos falando de um produto perecível, volumoso e de relativamente baixo valor por quilo (comparado a grãos ou carnes). Isso significa que frete caro ou demorado pesa muito no preço final e qualquer problema no caminho pode gerar perdas pós-colheita.
Vamos detalhar alguns principais gargalos:
- Rodovias e Distâncias: Grande parte das batatas no Brasil viajam de caminhão das regiões produtoras até os centros consumidores. Em muitos casos, são centenas de quilômetros. Se a estrada é ruim ou esburacada, o trajeto demora mais e os tubérculos chacoalham lá atrás. Além do risco de avarias nos produtos, o custo do transporte sobe. Em algumas rotas longas, o frete pode representar até 20% (ou mais) do preço de venda da batata – por exemplo, de regiões produtoras em Minas Gerais até São Paulo. Em outras rotas mais curtas, como do interior paulista (Vargem Grande do Sul) até a capital, esse percentual fica na faixa de 10-12%. De todo modo, é um peso significativo. Vale lembrar que o Brasil escoa mais de 50% de toda sua safra agrícola por rodovias, e muitas estradas vicinais (que ligam as fazendas às rodovias principais) ainda são de terra ou estão mal conservadas, especialmente em épocas de chuva. Para o pequeno produtor de batata no Brasil, uma estrada de terra intransitável pode significar não conseguir enviar sua produção ao mercado a tempo.
- Falta de Armazenamento e Refrigeração: Diferentemente de grãos, que podem ser estocados por meses em silos, a batata fresca tem vida pós-colheita limitada. Ela pode até ser armazenada por algumas semanas em locais arejados e escuros, mas não suporta armazenamento prolongado em câmaras frias abaixo de 10 °C – isso causa acúmulo de açúcares e escurecimento ao fritar. Ou seja, não existe um “estocão” de batata para regular oferta entre safras; o que se colhe precisa ser distribuído e vendido em relativo curto prazo. Essa característica torna a logística ainda mais crítica: se houver excesso de oferta e falta de escoamento, os preços despencam e as perdas aumentam; se houver quebra de safra em alguma região e dificuldade de trazer batata de outra distante, pode faltar produto no mercado local. A falta de câmaras frias acessíveis e de centrais de distribuição com controle de qualidade também contribui para desperdícios. Estima-se que no setor de hortifrúti do Brasil uma parcela significativa de perdas ocorra justamente no transporte e manuseio, devido a embalagens inadequadas, calor e manuseio bruto. No caso da batata, felizmente é um produto relativamente resistente e menos perecível que folhas ou tomates – as perdas médias no transporte são da ordem de 2% ou menos. Ainda assim, em viagens longas, se os tubérculos não forem bem acondicionados (por exemplo, sacos muito cheios e empilhados demais) e se ficarem expostos ao sol, podem esverdear ou murchar, tornando-se impróprios para venda.
- Custos Logísticos Elevados: Soma-se a isso o custo Brasil de modo geral – combustível, pedágios, retorno de caminhão vazio. Produtores mencionam que muitas vezes o comprador (atacadista) é quem arca com o frete, mas em troca paga um preço menor ao produtor. Ou seja, de um jeito ou de outro, a conta recai sobre a cadeia. Estudos mostram que problemas de infraestrutura chegam a aumentar em 23% o custo do transporte no país (mais combustível, mais pneus gastos, etc.), comparado ao ideal de estradas boas. Para a batata, que já tem margem apertada, esse adicional de custo é crítico. Por exemplo, na rota do Alto Paranaíba (MG) para São Paulo, o frete sem retorno representava cerca de 22% do valor de venda na Ceagesp. Em resumo: estrada ruim e longa distância = frete caro = produtor recebendo menos e consumidor pagando mais. Esse é um gargalo clássico.
- Limitações em outros modais: E por que não usar trem ou navio para transportar batata? Em teoria, poderíamos ter cargas refrigeradas por ferrovia ou cabotagem, mas na prática a malha ferroviária brasileira não atende bem o transporte de hortaliças (é mais focada em grãos, minério, contêineres de longa distância) e a logística de frutas e hortaliças exige mais rapidez e flexibilidade do que nossas ferrovias atuais oferecem. Hidrovias poderiam ser opção em algumas regiões (especialmente Centro-Norte, para outras commodities), mas para batatas que saem de MG, SP, PR, a hidrovia não entra muito no circuito. Assim, continuamos 90% dependentes do caminhão para o batatão nosso de cada dia.
Em suma, os desafios logísticos para a batata envolvem principalmente garantir estradas adequadas, reduzir o tempo de transporte, manter a qualidade pós-colheita e diminuir custos. A infraestrutura precária “come” uma fatia da rentabilidade do produtor e encarece para o consumidor. Mas nem tudo são más notícias: vamos conhecer agora algumas melhorias e boas práticas que estão ajudando a driblar esses gargalos.
Boas Práticas e Melhoria de Infraestrutura: Casos de Sucesso
Felizmente, há exemplos inspiradores de regiões e iniciativas que conseguiram melhorar a infraestrutura e logística da batata, servindo de modelo para outros lugares. Vamos visitar mentalmente alguns desses casos:
- Chapada Diamantina (BA) – Estradas e Integração: Citamos que a Bahia emergiu como grande produtora de batata. Uma das chaves desse sucesso na Chapada Diamantina foi investir em infraestrutura local. Recentemente, o governo baiano concluiu a pavimentação da rodovia BA-142, que liga Mucugê e região aos mercados consumidores. Antes, os produtores sofriam com estradas ruins para escoar a safra; agora, com asfalto novo, o trajeto ficou mais rápido e confiável. Além disso, a chegada de projetos de irrigação e assistência técnica modernizou a produção. O resultado? Produtores baianos colocando batata de qualidade no mercado nacional com preços competitivos. Mucugê hoje é referência não só em produtividade, mas também em organização: lá, cooperativas e empresas melhoraram o pós-colheita, adotando centros de acondicionamento onde a batata é limpa, selecionada e embalada adequadamente antes de viajar. Essa combinação de estrada boa + tecnologia de pós-colheita aumentou o valor da batata de lá e reduziu perdas. É um caso de boa prática integrada – infraestrutura pública somada a investimento privado em processamento.
- Sudoeste de São Paulo (Vargem Grande do Sul) – Proximidade dos Mercados: Vargem Grande do Sul (SP) é conhecida como a terra da batata no estado de São Paulo. Um dos trunfos dessa região é a logística favorável: ela está a apenas 230 km da capital paulista, ligada por rodovias duplicadas (Bandeirantes/Anhanguera) em bom estado. Assim, um caminhão carregado consegue chegar à CEAGESP (entreposto de São Paulo) em cerca de 3 horas – praticamente “do campo à mesa no mesmo dia”. A qualidade das estradas e a curta distância garantem que a batata chegue fresca, com perdas mínimas, e com frete relativamente barato (cerca de 12% do custo final). Essa vantagem logística natural fez Vargem Grande prosperar como polo batateiro. Além disso, muitos produtores dali adotaram embalagens apropriadas (caixas plásticas retornáveis, sacarias bem ventiladas) e frotas próprias ou compartilhadas para entregar a produção diariamente nos entrepostos. Ou seja, há um alto nível de organização e profissionalismo na cadeia logística local, servindo de modelo para outras regiões. Quando não dá para encurtar a distância, pelo menos dá para organizar o transporte de modo eficiente – e isso Vargem Grande faz muito bem.
- Tecnologia e Logística Inteligente: Alguns projetos inovadores estão surgindo para melhorar a logística no agro. Por exemplo, na The Brazil Conference & Expo 2025, evento focado em frutas e hortaliças, empresas apresentaram embalagens sustentáveis e inteligentes para proteger melhor os produtos e otimizar o transporte. A empresa Smurfit Westrock, por exemplo, lançou embalagens de papelão resistentes projetadas para reduzir perdas no transporte de tubérculos e hortaliças, permitindo melhor ventilação e proteção do campo até o varejo. Soluções assim mostram que inovação também é infraestrutura – ainda que “infraestrutura invisível”. Uma boa caixa pode significar menos batatas machucadas no caminho e maior durabilidade na gôndola. Outros exemplos incluem aplicativos de marketplace logístico, onde pequenos produtores podem compartilhar frete (um caminhão completo em vez de meio vazio), e sistemas de rastreamento e agendamento que tornam a entrega mais pontual e previsível. Há startups criando verdadeiras “Uber da roça” para conectar caminhoneiros disponíveis a produtores, diminuindo caminhão rodando vazio e encurtando espera por frete. Tudo isso são boas práticas que começam a ganhar espaço.
- Cooperativas e Centros de Distribuição: Em algumas regiões, cooperativas agrícolas investiram em centrais de distribuição e armazenamento para seus cooperados. Por exemplo, cooperativas no Sul de Minas e no Paraná criaram packing houses comunitários para batata, com estruturas de cura (secagem pós-colheita), classificação por tamanho e até câmara climatizada (não gelada, mas com temperatura e umidade controladas perto de 10 °C). Assim, conseguem estender em alguns dias ou semanas a vida da batata, vendendo de forma escalonada em vez de despejar tudo de uma vez no mercado. Embora armazenamento prolongado de batata fresca seja limitado, essas mini “CEASAs” regionais ajudam a regular a oferta local e a garantir qualidade uniforme, além de negociar fretes melhores em volume. São iniciativas que organizam a logística na origem, um fator decisivo para reduzir perdas e ganhar poder de barganha.
Esses casos nos mostram que, quando há investimento em infraestrutura (pública e privada) e adoção de boas práticas logísticas, os benefícios aparecem: menor desperdício, melhor preço ao produtor, produto de maior qualidade ao consumidor e maior sustentabilidade no processo. Mas e no âmbito macro, o que está sendo feito para atacar os gargalos? Vamos conferir as iniciativas governamentais e privadas em andamento.
Iniciativas Governamentais e Privadas para Melhorar a Logística Agro
O tema de logística no agronegócio ganhou holofotes nos últimos anos, e governo e setor privado têm se mobilizado com planos e investimentos. Vamos destacar alguns:
- Plano de Escoamento da Safra 2024/25: O Governo Federal lançou no início de 2025 um plano específico para melhorar a logística da safra agrícola, integrado ao novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Esse plano prevê investimentos de R$ 4,5 bilhões em ações como recuperação de rodovias, ampliação de armazéns e reforço em corredores logísticos estratégicos. Por exemplo, está em curso um reforço nas rodovias do chamado Arco Norte (as rotas que ligam o Centro-Norte do país aos portos do Norte), e também no Corredor Sul/Sudeste – que envolve estradas importantes para escoar produção do PR, SP, MG para portos e grandes centros. No eixo Sul/Sudeste, serão aplicados cerca de R$ 1,9 bilhão em melhorias de vias, duplicações de trechos críticos e construção de viadutos de acesso a portos. Embora essas obras beneficiem principalmente grãos e exportações, elas também ajudam o fluxo de hortaliças e alimentos internos, pois melhoram rodovias usadas por caminhões de todos os tipos. Além disso, o governo anunciou leilões de concessão de 9 lotes de rodovias (mais de 5,5 mil km) para a iniciativa privada, com previsão de investimentos acima de R$ 90 bilhões nos próximos anos em novas duplicações, manutenção e ampliação da malha. Ou seja, há um movimento para atrair investimento privado e acelerar a modernização da infraestrutura de transportes. No mesmo pacote, estão previstas concessões ferroviárias (1.700 km) visando aumentar a oferta de trens de carga – quem sabe no futuro parte do trajeto de hortifrútis possa ser feito sobre trilhos, pelo menos em longas distâncias, complementando os caminhões.
- Investimentos em Armazéns e Ceasas: O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) vem apoiando projetos de melhoria nas Centrais de Abastecimento (Ceasa) e entrepostos. Programas de modernização visam aprimorar a estrutura desses mercados atacadistas, incluindo câmaras frias, equipamentos de movimentação e sistemas de informação (por exemplo, o Prohort da Conab monitora preços e oferta de hortigranjeiros para antecipar gargalos). Alguns estados também investem em suas centrais: em Mato Grosso do Sul, a Ceasa de Campo Grande implementou uma fábrica de sopas desidratadas e polpas para aproveitar hortaliças excedentes e reduzir desperdício – uma ideia criativa de logística reversa que agrega valor ao invés de simplesmente perder produto. Em São Paulo, discute-se a relocação e construção de uma nova Ceagesp mais moderna, com acesso logístico melhor, embora seja um tema polêmico.
- Estradas Vicinais e Conectividade Rural: Um ponto importante – ainda que menos glamoroso – são as pequenas estradas rurais. O governo federal, via emendas parlamentares e programas do Mapa, destinou recursos para manutenção de estradas vicinais em municípios agrícolas. A ideia é ajudar prefeituras a consertarem pontes, cascalhar trechos críticos e garantir que o caminhão consiga chegar à porteira da fazenda. Afinal, de nada adianta duplicar a BR se o produtor não consegue sair da propriedade em dias de chuva. Outro esforço é em conectividade: programas para levar internet ao campo (via satélite ou 4G rural) permitem que produtores usem aplicativos de logística e monitoramento, e até que caminhoneiros tenham melhor comunicação para otimizar as entregas. Um campo conectado é um campo mais integrado à cadeia logística digital.
- Parcerias Público-Privadas e Setor Privado: Além dos leilões de concessão, vemos empresas privadas atuando diretamente. Grandes tradings e cooperativas de grãos já investem em ferrovias e portos próprios; no caso das hortaliças, empresas de alimentos processados montam centros de distribuição regional para encurtar distâncias. Por exemplo, redes de supermercados montam CDs no interior (próximos das zonas produtoras) e daí distribuem para as lojas, em vez de cada produtor entregar loja a loja. Isso racionaliza rotas. Há também a entrada de operadores logísticos especializados em frio, oferecendo serviço de transporte refrigerado compartilhado para pequenos produtores de hortifruti – embora ainda caro, esse serviço tende a crescer conforme a demanda por qualidade aumenta.
Em resumo, no âmbito governamental há planos e investimentos em infraestrutura pesada (rodovias, ferrovias, armazéns) que, se bem executados, vão beneficiar o agronegócio como um todo, incluindo a bataticultura. No âmbito privado, inovação e eficiência têm sido as palavras de ordem – seja via novas embalagens, novos modelos de negócios logísticos ou investimento direto em centros de distribuição. Tudo isso para reduzir os gargalos que hoje existem entre a terra onde a batata é colhida e o prato onde ela é saboreada.
Oportunidades de Investimento e Inovação em Infraestrutura Logística da Batata no Brasil
Diante dos desafios mencionados, também surgem grandes oportunidades. Problemas nada mais são do que chances de inovar, certo? Vamos listar algumas oportunidades de investimentos ou soluções que podem transformar a logística da batata no Brasil (e de outras hortaliças) nos próximos anos:
- Expansão da Cadeia do Frio Inteligente: Apesar de a refrigeração da batata in natura ter limitações, há espaço para desenvolver tecnologias de armazenagem adaptadas. Por exemplo, pesquisas em variedades de batata mais resistentes ao frio ou tratamentos pós-colheita que inibam o acúmulo de açúcar podem viabilizar estoques reguladores refrigerados em futuros próximos. Empresas de tecnologia pós-colheita podem investir em soluções como atmosferas controladas ou uso de gás etileno (que já é usado para evitar brotação em ba tatas armazenadas). Uma cadeia do frio “sob medida” para hortaliças brasileiras é um campo aberto para inovação. Além disso, transporte refrigerado para longas distâncias – mesmo que hoje pouco utilizado em hortaliças comuns – tende a crescer. Caminhões com temperatura controlada e umidade adequada poderiam reduzir perdas e permitir que batatas de regiões distantes cheguem com qualidade top nos mercados. O custo desses fretes especiais hoje é alto, mas à medida que a tecnologia baratear (e com pressão por qualidade dos consumidores), pode se tornar viável. Investidores atentos podem olhar para logística refrigerada compartilhada como um nicho promissor.
- Infraestrutura Digital e Logística 4.0: A digitalização logística é outra frente. Plataformas online de comercialização e distribuição podem encurtar a cadeia (por exemplo, conectando produtores diretamente a redes varejistas ou food service), o que otimiza o transporte. Startups que criem sistemas de gestão de rotas para caminhões de hortifrúti (considerando janelas de colheita, trânsito, previsão do tempo) podem agregar enorme valor evitando atrasos e entregando produtos mais frescos. O uso de IoT (Internet das Coisas) – sensores que monitoram temperatura e vibração dentro dos caminhões – pode ajudar transportadores a ajustar práticas (ex: ventilar a carga quando preciso, dirigir com mais cautela em certos trechos) para minimizar danos. Toda essa infraestrutura digital, embora intangível, é um campo de investimento importante para eficiência logística.
- Armazenamento e Processamento Regional: Investir em centros de distribuição regionais equipados para hortaliças é outra oportunidade. Imagine hubs em polos produtores (tipo São Gotardo-MG, Chapada Diamantina-BA, Sudoeste Paulista) que façam consolidação de cargas, triagem e até processamento mínimo (lavagem, corte ou pré-cozimento). Com a tendência de consumo de alimentos minimamente processados, um centro desses poderia já transformar parte da batata in natura em produto de maior valor (batata descascada e embalada a vácuo, por exemplo), agregando valor e reduzindo volume para transporte. Isso atrai investidores da indústria alimentícia. Além disso, fábricas de derivados (fécula, purê em pó, snacks) próximas às zonas produtoras podem absorver excedentes de batata quando há superprodução, estabilizando renda dos produtores. Trata-se de conectar infraestrutura industrial com agrícola, criando cinturões agroindustriais onde antes havia só produção primária.
- Parcerias e Financiamento Privado: Com os altos investimentos anunciados em concessões, há espaço para o setor privado investir em infraestrutura e obter retorno ajudando o agro. Fundos de investimento podem olhar para projetos de melhoria de estradas vicinais via PPPs, ou construção de armazéns públicos onde houver déficit, obtendo remuneração via uso. Até mesmo iniciativas de energias renováveis no transporte (como caminhões elétricos ou a gás para curtas distâncias em zonas ru rais) podem ter apoio de políticas verdes e gerar economia a longo prazo. O agronegócio brasileiro é enorme, e cada ponto percentual de eficiência logística que se ganha representa milhões de reais economizados ou ganhos. Portanto, investir em logística agro é investir em algo com retorno certo – seja reduzindo desperdício (o que é ganho ambiental e econômico), seja agregando valor.
Em síntese, embora tenhamos muitos desafios, o horizonte traz várias oportunidades de melhoria e inovação. E eventos como a InfraBusiness Expo 2025, que reúne players de infraestrutura, logística e construção, são palcos ideais para discutir e conhecer essas soluções. Inclusive, estamos chegando ao final do nosso podcast e, pensando nesse evento, preparamos algumas perguntas quentes para os expositores de lá, com foco em batata e agroinfraestrutura. Se você, ouvinte, for participar, já anota aí para não perder a chance de se aprofundar no tema!
Perguntas para Expositores na InfraBusiness Expo 2025 (Batata & Agroinfraestrutura)
- Para representantes do governo (federal/estadual): Quais são as principais ações previstas para melhorar as estradas e o transporte nas regiões produtoras de batata? Existe algum programa específico de apoio à logística de hortaliças (por exemplo, manutenção de estradas vicinais ou incentivo à armazenagem frigorificada) que os produtores de batata deveriam conhecer?
- Para empresas de logística e transporte: Como as inovações em tecnologia de transporte podem beneficiar a cadeia da batata? Vocês estão desenvolvendo soluções como caminhões refrigerados inteligentes, rastreamento em tempo real ou compartilhamento de carga que possam reduzir custos e perdas no transporte de hortifrutícolas? Poderiam citar exemplos práticos?
- Para concessionárias de rodovias e investidores em infraestrutura: Há planos de investir em rotas estratégicas para o agronegócio que englobem polos de horticultura? Que melhorias os usuários (produtores e transportadores) podem esperar nas rodovias que escoam hortaliças nos próximos anos, e como essas melhorias vão impactar o custo e a confiabilidade do escoamento da batata?
- Para empresas de embalagem e pós-colheita (como as do setor de papelão/embalagens inteligentes): Que tipos de embalagens ou equipamentos vocês trazem para otimizar a conservação da batata desde a fazenda até o ponto de venda? Como essas inovações podem ajudar o produtor a entregar uma batata de melhor qualidade e com menos desperdício no trajeto?
- Para operadores de Ceasas e distribuição urbana: Quais iniciativas estão em andamento para modernizar as centrais de abastecimento e a logística urbana de hortifrútis? Há planos de novas centrais, uso de tecnologia para integrar oferta e demanda ou parcerias com produtores para melhorar a previsibilidade e programação de entregas de produtos como a batata, reduzindo aquelas oscilações bruscas de preço e falta/sobra de produto?
- Para startups de agro e logística 4.0: De que forma dados e integração digital podem revolucionar a cadeia da batata? Vocês veem potencial em soluções como aplicativos de leilão de frete, marketplaces B2B ligando produtores a compradores, ou sensores de qualidade que avisem quando um lote armazenado começa a deteriorar? O que falta para essas inovações ganharem escala no setor de hortaliças?
Com essas perguntas, encerramos o episódio de hoje. Esperamos que este roteiro sobre a batata inglesa tenha jogado luz sobre a importância da infraestrutura e logística no agro. A batata, humilde no campo, percorre um longo caminho até virar purê ou fritas no seu prato – e melhorar esse caminho traz benefícios para toda a sociedade, do produtor ao consumidor. Fique de olho nas novidades da InfraBusiness Expo e em outras iniciativas, porque o futuro da bataticultura e do agronegócio passa, sem dúvida, por estradas melhores, tecnologias inovadoras e muita colaboração.
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